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Os dias se
passam. As pessoas andam apressadas. Cheias de afazeres. Cheias de nada. O medo
do não fazer, se assoma ao medo do silêncio, do não ter o que falar. Enquanto
isso alguns se lançam em busca de religião-porque-o-fim-está-próximo; outros em
torno de causas – porque sempre há alguém sendo violado, quer moralmente, quer
fisicamente; outros aos vícios; enquanto outros simplesmente vagueiam, perdidos,
embebidos no vazio nulificante do mundo do trabalho maquinal, ou em busca de um
trabalho que cale as mentes e as obrigue a se reconfortar com o entorno –
buscam serem engrenagens no grande esquema das coisas, no grande relógio antes
que a meia noite chegue e o grande buraco negro do não-ser tome a todos.
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Tudo e
todos os que se detém a pensar um pouco seguem em busca de uma melodia que lhes
dê um tom ao terror do sem-propósito com que o momento nos ameaça as vidas:
economia quebrada, ou em vias disso, como no pós guerra alemão da década de 40.
Corrupção de corações, mais que de bolsos, como na Itália nos tempos áureos máfia
– mas que tinham certa graça, pois havia mais respeito pela vida. Venda da
moral, enfiada em roupas de baixo, enfiadas embaixo do tapete, da alma, do espírito.
Matanças desesperadas que procuram diminuir o número de vidas que podem ser
novas ameaças.
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Vagamos em
busca de esperança. O que pode nos salvar, defender, redirecionar? Paideia, o principio
grego – que parcamente traduzimos por educação – incluía mais do que crianças
na escola como imbuimento de instrução; sabia mais que o culto ao corpo como
aprimoramento humano; tratava mais que do conhecimento das ciências externas ao
homem como principio de localização do individuo no mundo, mas fazia com que
olhasse para dentro de si e se enxergasse indivíduo, cidadão.
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Bem, claro
é que uma leva de seres falantes exclusivamente de outros idiomas era tratada como animais,
sem direito a dignidade ou a uma pátria ou, mesmo, a terra sobre seus corpos finitos
quando era chegada a hora, condenados a quê? Vaguear perdidos entre o submundo
e a vida. Espere! Este se parece um pouco com o cenário pintado ali acima:
homens que vivem como animais, procurando a quem servir. Isso é uma repetição
ou meramente o destino de todos nós nesse século em que parece que a des-humanização,
a coisificação, a f-utilização imperam senhoras? Seremos escravos apátridas ou
nossa mente se dará o trabalho de aprender que a vida da língua também pode ser
vida pro corpo? Ou vamos nos encerrar em nossos cubículos de saber cada vez
mais sobre coisa mais ínfima e nos celebrizar por mais esse vazio?
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Canso de procurar a quem servir. Estou agora procurando quem dê a mão e siga pra dançar nessa roda, dialogando sobre os caminhos antes que a maquinal roda-viva
do vazio coletivo consuma ou lance no vazio o que sobra dessa resistência renitente em teimar.
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A quem se se habilitar, uma pergunta: pode dar o tom para essa música antes que o flautista sombrio nos conduza ao mar?